Iconografias

Feminicídio

Iconologia: Cena de violência a mulher, trazendo à tona problema recorrente no México. Bairro onde ocorreu a tragédia, é La Merced na Cidade do México. Bairro conhecido como zona de prostituição.


Prostituição

Iconologia: O bairro de La Merced, na Cidade do México, é um local turístico mas também de prostituição.  Existem milhares de mulheres imersas no comércio sexual na Cidade do México, em situação de escravidão e servidão sexual.  Na cena descrita na placa ex-votiva podemos ver a sensualidade explícita da mulher, através de suas roupas e da maquiagem  excessiva.


Violência Doméstica


Álcool e Crime


Amor


Traição

  Análise do discurso

 Cena do cotidiano de um casal, com um tema recorrente se considerarmos  o relacionamento humano.  Desde os textos bíblicos existe traição. Da mesma forma que existe o reconhecimento do erro e o perdão. Segundo Mangueneau, não existe discurso sem estar contextualizado, só é discurso quando remete a um “EU”, a um sujeito e a atitude que está tomando em relação ao que diz.

Por outro lado implica em uma transformação da sociedade. – Esta placa ex—votiva exposta comunica uma mensagem às pessoas que visitam o local onde foi oferecida.

Funciona como um elemento comunicacional:

E podemos ver que se enquadra em vários elementos trazidos por Mangueneau:

  • Criação de um cenário cênico: cena englobante, cena genérica e cenografia.
  • A placa ex-votiva comunica através das imagens, do diálogo existente, e do testemunho  da fé.
  • Traz a tona também a noção de temporalidade: uma comunicação mais moderna, chamando atenção de outro tipo de público ou pontuando  a perpetuação de comportamentos antigos.

 

FOTOS GENTILMENTE CEDIDAS POR CAROLINE PERRE.


Sobrenatural

Análise do Discurso
Ex- Voto Transgressor – transgride o formato tradicional de ex- voto
No caso desta placa , o que a caracteriza como um ex- voto  transgressor é a temática sobrenatural:    a aparição de OVNI.

Outro ponto que devemos destacar: as placas ex-votivas são folkcomunicacionais.

Segundo Beltrão a folkcomunicação  é conjunto de procedimentos de intercâmbio de ideias, atitudes, opiniões de públicos marginalizados, urbanos e rurais através  de meio ou agente direta ou indiretamente ligado ao folclore.

A exposição desta placa numa sala de milagre , ou igreja faz uma conexão com uma audiência, promove um fluxo de comunicação  popular. É um processo artesanal, as mensagens contidas nas placas ex-votivas são transmitidas em linguagens e canais familiares.  Existe o ciclo de comunicação entre os próprios devotos, e também a transmissão da cultura popular fora deste círculo. (no caso visitantes diversos/turistas)

BELTRÃO, Luís. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980. P. 1-40


Inspiração

Análise Artística

Vilchis retrata a si mesmo como personagem nesta pintura, e traz em seu estilo próprio características de suas referências na arte, principalmente no que diz respeito à arte mexicana. Ao tentar replicar o estilo de Frida Kahlo e Diego Rivera, ele aprendeu a desenvolver o seu próprio. 

A arte de Vilchis se articula como um aspecto da cultura popular, seu estilo se caracteriza dentro da Arte Naif; que é um conceito que designa a produção de artistas autodidatas que desenvolvem uma linguagem pessoal e original de expressão. Conceito que se mostra nos aspectos ligeiramente não canônicos de seus traços, demonstrando, tal como o conceito francês ‘naïf’ que significa ingênuo, uma concretude de fatos sem se ater ao realismo da forma, mas sim as ideias das formas como suporte do discurso, neste caso o discurso ex-votivo. Vilchis transforma cenas cotidianas, relações sociais e cenários dentro da configuração das cores vibrantes de suas pinturas, utilizando da cultura popular religiosa como forma de expressar suas potencialidades folkcomunicacionais. 

BELTRÃO, Luís. Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados. São Paulo: Cortez, 1980. P. 1-40

ROSSETTO, Mariana. Arte naïf: da Santa Ceia aos Orixás. São Paulo. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2013. 

Revista Digital CHILANGO: <https://www.chilango.com/ciudad/el-da-vinci-de-la-lagunilla/&gt;


Saúde

Estupro


Retablo Surrealista

Análise do Discurso

 O retablo de David Mecalco traz uma combinação de elementos da cultura mexicana em seu discurso: a representação da caveira é um símbolo da cultura mexicana utilizado nos rituais do Dia dos Mortos no México, representando a vida e a proteção contra os maus espíritos. O uso da caveira como símbolo sagrado foi incorporado à cultura mexicana por influência dos Maias, Incas e Astecas (povos pré-colombianos) que habitavam a região do México. Além da cultura da caveira mexicana, a ‘’Lucha Libre’’ também é aspecto da cultura popular mexicana que carrega muitos símbolos construídos a partir da religiosidade pré-colombiana. 

GONZÁLEZ CRUSSÍ, Francisco. Día de muertos y otras relexiones sobre la muerte. Ed. Verdehalago. U.A.M. México, 1997. 

VILLARREAL, Héctor SIMULACRO, CATARSIS Y ESPECTÁCULO MEDIÁTICO EN LA LUCHA LIBRE Razón y Palabra, núm. 69, julio-agosto, 2009, pp. 1-11. Universidad de los Hemisferios Quito, Ecuado. Disponível em: <https://www.redalyc.org/articulo.oa?id=199520330046&gt;

Santa Morte

Acidente no Trabalho

Este ex-voto é considerado tradicional tanto pelo seu formato quanto pela temática apresentada.  A cena principal aparece no centro da tela, a legenda na parte inferior e a divindade em destaque. A narração de um acidente de trabalho dando graças a sobrevivência, é um tema tradicional e junto com as enfermidades e moléstias é bastante frequente nas placas ex-votivas.

 A descrição da legenda permite que o observador entenda o motivo da confecção desta placa. Está escrito o agradecimento pelo acidente com o machado ter sido solucionado. O machado atingiu na canela o Luis de França de Jesus.  A obra   era do reverendo Miguel de Noronha, situada na rua atrás da Intendência da Vila de São João del Rei, subindo para o Bonfim. Através da leitura podemos ver a forma como se descrevia o endereço na época, e como era a linguagem escrita comum no século XVIII.

Análise do Discurso

A prática de ofertar ex-votos aos Santos era bastante popular em Minas Gerais no século XVIII. No contexto histórico percebemos um Brasil escravocrata, o Brasil Colônia. Nesta época ocorre o apogeu da Era do Ouro e há a migração do eixo econômico do Nordeste para o Centro Sul. Houve um grande afluxo populacional para Minas nesta época, era a colônia com maior densidade demográfica. Principalmente de escravos, portugueses e paulistas; nesta ordem de volume.

As tábuas votivas encontradas em Minas possuem um padrão imagético, com pequenas variações. Eles representam no centro a imagem de um doente, ou no caso deste o acidente de trabalho, e a divindade envolta em nuvens. Sempre a presença da legenda na parte inferior, indicando o motivo do milagre ou agradecimento. São ex-votos similares aos ex-votos portugueses. A construção do santuário Bom Jesus de Matosinhos e o surgimento das peregrinações estimulou a popularização destas placas ex-votivas. A temática destas placas ex-votivas era relacionada a problemas corriqueiros na sociedade mineira da época, podemos verificar a religiosidade forte existente na época. Esta tradição de confecção das placas ex-votivas era não só da classe dominante, mas também dos escravos e trabalhadores rurais. Os ex-votos são um retrato de fé e devoção e também um espelho da cultura popular.

Análise do discurso

Alfredo Vilchis é um importante retableiro do México. Há mais de 30 anos se dedica a pintar ‘retablos’, como são chamadas estas placas ex-votivas pictóricas no México.  A narrativa dos retablos revelam histórias do cotidiano, do entorno dos bairros e cidades mexicanas, permeadas com a religiosidade da população.  O que mais se destaca são os temas modernos e atuais pintados em uma tradição tão antiga como os ex-votos. 

Nesta placa, o tema central é o envolvimento dos jovens com as drogas.  Mais um exemplo do caráter folkcomunicacional dos ex-votos; … “o ex-voto adentra no campo da comunicação social, por ser uma forte mídia que torna pública a voz do romeiro, do peregrino, enfim, do crente…” (OLIVEIRA, p.5)

Bibliografia

Oliveira, J. C. A. de. (2017). Códigos, símbolos e sinais: o caso dos Ex-votos Mexicanos. Revista Extraprensa10(2), 79-94. https://doi.org/10.11606/extraprensa2017.115253

A estética desta placa difere um pouco das tradicionais pelo posicionamento da legenda, que se encontra, logo abaixo da santa e no lado direito da placa.

Análise do discurso

O ex-voto configura-se como um documento da realidade e um testemunho da vida cotidiana dos devotos.  O ato de desobriga, que consiste no ato de ofertar o ex-voto em uma igreja e sala de milagre permite que a cena descrita, o pedido e a graça sejam visualizados por vários espectadores, havendo desta forma uma difusão da cultura popular, seus medos e anseios, e também um retrato da época em que foi confeccionado. O pintor da placa retrata em cores fortes o acontecido, bem característico das utilizadas no folclore mexicano

Iconografia por Fernanda Camelier

CAFETÃO E PROSTITUTA

Análise Iconográfica

Retablo policromático, representando um triangulo amoroso em algum bairro do México.  Possui uma legenda em espanhol na parte inferior: “Las gracias le doy a la Virgem de Guadalupe porque Julio ya esta bien despues de ser apuñalado por Tenny el “padrote” que me teria de puta …quiso matarlo e nos vivimos felices sim imputtarte mi passado”.  Algumas partes estão ilegíveis mas, em tradução livre, a mulher agradece  à Virgem de Guadalupe por Julio estar bem depois de ter sido apunhalado pelo cafetão, e que agora vivem felizes sem se importar com o passado.

No centro da placa ex-votiva, estão representados os personagens principais da cena. A figura feminina encontra-se de pé abraçando o cafetão. Usa um vestido curto e justo de cor azul. Calça botas preta, longas, acima do joelho.  Sua perna esquerda está dobrada, seu braço direito está apoiado no peito do cafetão. Seus cabelos são pretos. O homem ao centro é o cafetão, encontra-se vestido a rigor com calça e sapato sociais.  Usa camisa branca e meio fraque.  É careca.

A outra figura masculina usa camisa vermelha e calça azul com cinto preto. Calça sapatos pretos. Segura um punhal com a mão esquerda, a mão direita apoia-se nas costas do cafetão.

A cena narrativa se passa na frente de um hotel, onde existe uma placa pendurada na porta divulgando o preço da diária do quarto:  “$150”.  O nome “hotel” está pintado acima da porta, e o número “66” pintado do lado direito. A parede descascada, com tijolos à mostra revela a simplicidade do local.

Um vendedor de comida presencia a cena. Ele se encontra de costas para o observador da placa ex-votiva. Usa calça preta e camisa de manga curta azul. Calça sapatos pretos. Seus cabelos são pretos e curtos. Ele prepara algum alimento para ser vendido. O carrinho tem rodas que facilita a locomoção nas ruas da cidade. Existe uma chaminé no carrinho de comida, saindo fumaça. A Virgem de Guadalupe paira sobre esta nuvem de fumaça, como se fosse uma aparição. Está retratada de forma clássica, com a túnica verde com detalhes amarelos, que cobre a alva de cor vermelha. Suas mãos estão unidas em oração e seu olhar se direciona aos três personagens centrais. No local onde habitualmente se visualiza um anjo na imagem da Virgem está uma criança de torso nu, cabelos compridos e suspensos no ar; parece sustentar a Virgem nos seus braços. Em volta da imagem da santa existe um contorno amarelo.

Análise do discurso

As placas ex-votivas são frutos da religiosidade popular, são um agradecimento, uma retribuição a uma graça alcançada ou a um milagre concedido pela divindade de devoção. As placas pictóricas retratam a cena narrativa do milagre obtido.  

A imagem reproduzida na tela mostra o local, os personagens envolvidos, e a divindade. Além disso pode-se vislumbrar aspectos do cotidiano deste local, como é o caso do vendedor de lanches e a imagem descritiva da rua onde ocorreu a violência: meio deserta e sombria.  A presença do pequeno hotel utilizado para a prostituição, registrado na imagem, é um outro elemento que caracteriza a realidade vivida pelos habitantes da cidade, e pela demonstração dos personagens ligados a um local de prostituição,  podemos perceber um ex-voto transgressor.

Duarte afirma que as pinturas votivas:

“São imagens que descrevem histórias de graças e milagres. A tipologia dessas composições é a pintura figurativa. Geralmente são imagens compostas por figuras humanas, usadas como personagens para compor a cena que originou o milagre ou o perigo que o devoto estava vivendo antes de receber a graça. Pode-se arriscar a dizer que são composições figurativas-narrativas, pois todas as imagens são feitas para relatar histórias de mercês recebidas.”  (Duarte, 2014, p.146)

A placa ex-votiva, é multicolorida, apresenta cores vibrantes e desenho que provoca movimentos, mas, apesar do jogo de cores, a imagem é de uma rua sombria. Chama atenção na pintura, a presença das sombras das três figuras principais e a iluminação que vem da mesma direção onde está posicionada a Virgem na placa ex-votiva. A Virgem “ilumina” a cena narrativa, evitando o desfecho trágico da violência.

Referência Bibliográfica

DUARTE, Ana Helena da Silva Delfino. O Imaginário ex-votivo na pintura de Frida Kahlo: Mulheres na história, São Paulo, ed. jan/jun, p. 141-166, 2014.

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Pesquisadora Assistente – Voluntária/PIBIC.