Livro II


LANÇAMENTO: O GRANDE DIA.

Auditório do MAB lotado 

No dia 13 de julho, todos aguardavam ansiosamente no auditório do MAB( Museu de Arte da Bahia), o lançamento do livro Ex-votos do Brasil: Arte e Folkcomunicação que se deu juntamente com a inauguração da exposição Milagres da Fé. E para abertura da noite uma apresentação de dança contemporânea da FUNCEB organizado pela professora Roquidélia Santos.

A intervenção inicial, tratando sobre manifestações da fé.

A intervenção inicial, tratando sobre manifestações da fé.

Segundo momento, com apresentação sobre Ex-votos do Brasil: Arte e Folkcomunicação.


Terceira e última apresentação retratando os Búfalos de Iansã.


Finalização com discursos do organizador do livro José Cláudio, autores, diretor do MAB e coordenadores do curso de graduação e pós-graduação em Museologia.



PREÂMBULOS

Exvotos del Brasil

Este sobresaliente trabajo de investigación de un grupo de expertos, coordinado por el Dr. José Cláudio Alves de Oliveira, ofrece un detallado estudio sobre el fenómeno del exvoto en Brasil desde diferentes perspectivas: partiendo de su gestación vía la influencia portuguesa, hasta su evolución histórica que llega a las expresiones del exvoto contemporáneo. Esta publicación toca puntos tan importantes como el contexto social e histórico, la intención que motiva el ofrecimiento de estas ofrendas, así como la devoción con que se dedican, ya que son una muestra fidedigna de la piedad popular y dan origen a rica fuente de información acerca de asuntos que, en ocasiones, la cultura oficial no ha siquiera registrado.

Estos estudios, al presentar diversas tipologías para acercarse a los exvotos y así poderlos ubicar como patrimonio cultural, aportan también un acercamiento a los ritos y ceremonias que circundan estas ofrendas o dones y que son parte de la inmensa riqueza cultural de Brasil.

Elin Luque Agraz

Los autores, a la vez,muestran cómo los devotos se encandilan con la preciosidad de sus exvotos, atendiendo menos a la razón del exvoto en sí, que es comunicar un suceso cierto y el subsiguiente agradecimiento. De este modo, para explicar la verdadera significación del exvoto en el ámbito de la cultura y de la religiosidad popular, este libro integra diversos planos de análisis: las cualidades formales del exvoto, cuestiona el valor estético, no duda del valor documental, amén de la posibilidad de que estos ofrecimientos sean entendidos como depósito de sentidos simbólicos, a veces de gran complicación, pero que son prueba tangible de la inagotable comunicación del fiel con lo sobrenatural. Por esto mismo, son objetos con carga en las creencias que atañen a lo sagrado. Cabe señalar que el libro también incluye el tema de los museos de sitio en santuarios, con sus particulares museografías.
           
​Dado que de inmediato se advierte quees una pormenorizada investigación de carácter científico, de notable relevancia para la difusión de este arte, celebro de corazón la publicación de este libro y hago votos por que los interesados en la cultura lo tengan a mano para consulta,siempre que se aboquen a temas referentes a patrimonios artísticos, cualquiera que sea el lugar de procedencia.
           
 
Elin Luque Agraz
Casa Lamm, México


De l’Antiquité à l’époque contemporaine, du bassin méditerranéen au continent américian, l’ex-voto a traversé l’espace et le temps en s’intégrant aux pratiques religieuses chrétiennes telles qu’elles se sont développées au cours des siècles. Propitiatoire ou gratulatoire, l’ex-voto est l’objet témoin de la grâce sollicitée ou obtenue car il est offert en signe de demande et/ou de remerciement.

Objet de valeur ou objet usuel emprunté au quotidien, l’ex-voto est polymorphe et souvent difficile à identifier. Objet labil et transcatégoriel, il se caractérise par sa pluralité tant dans sa forme que dans son analyse car il intéresse différents champs d’études : religion, Histoire, sociologie, art, folklore, etc. S’il se fait plus discret en Europe, il est d’une formidable vitalité et visibilité en Amérique latine, notamment grâce aux salles votives dans lesquelles il est déposé. Le présent recueil est le fruit de plusieurs années de recherches et de dialogues interdisciplinaires autour de l’objet votif tel qu’il se développe en Amérique latine. Les articles réunis examinent les ex-voto dans leur diversité formelle et leurs usages du Brésil jusqu’à la frontière mexico-étasunienne : peintures coloniales, ex-voto anatomiques en métal, papiers votifs remis lors du don, etc.

Grâce à une approche pluridisciplinaire anthropologique, historique et linguistique, ces recherches réussissent à mieux cerner la spécificité de cet objet labil qu’est l’ex-voto, tout en identifiant les particularités de ce dernier dans son développement et ses usages sur le continent américain. Tour à tour analysé comme un objet d’art, de dévotion populaire, historique, mémoriel, sociologique et linguistique, la richesse et la variété de ces études révèlent les formes et les enjeux d’un objet de communication entre la terre et les cieux, entre l’homme et le divin.

Caroline Perrée
Histoire de l’Art, CEMCA


A riqueza das manifestações populares, o simbolismo das práticas ex-votivas e as marcas da religiosidade popular constituem o cenário das reflexões apresentadas no livro Ex-votos do Brasil: arte e folkcomunicação, organizado por José Cláudio Alves de Oliveira. Diferentes percursos, reveladores de objetos singulares pertencentes ao universo da devoção popular, permitem identificar uma das principais contribuições da obra: tornar conhecidas, com profundidade e rigor analítico, expressões da cultura religiosa que poderiam ficar restritas às salas de milagres, acessíveis apenas aos fiéis envolvidos na tradição popular.

O livro, ao contrário, aborda as práticas dos ex-votos como objeto de pesquisa científica, acionando um referencial teórico baseado nos estudos de cultura e de folkcomunicação, que dão vida às análises propostas.



A cada página, o leitor é convidado a conhecer um pouco mais sobre o percurso realizado pelos autores que integram este projeto editorial, evidenciando uma relação de coerência entre as reflexões teóricas e as observações empíricas sobre o tema.

Os seis capítulos de Ex-votos do Brasil: arte e folkcomunicação trazem, portanto, olhares complementares em torno da cultura dos ex-votos, que circulam entre sua caracterização como expressão artística ou como prática popular. Ana Helena da Silva Delfino Duarte, ao problematizar as relações entre cultura popular e cultura instituída, aborda os ex-votos como referência para os artistas contemporâneos brasileiros e estrangeiros, reconhecendo que a arte popular dos milagres integra o imaginário da fé católica.

Em sua reflexão sobre o ex-voto na arte e na sociedade, José Cláudio Alves de Oliveira destaca a característica de testemunho de um pedido expresso pelas mais variadas formas – bilhetes, cartas, maquetes, cabeças, objetos industriais, etc – e propõe uma análise iconológica dos objetos que contribui para o conhecimento das formas de comunicação implicadas nas práticas ex-votivas.

Genivalda Cândido, por sua vez, discute a comunicação museológica, em diálogo com a folkcomunicação, no Santuário do Bomfim. Em uma abordagem comparativa entre a sala de milagres e o museu dos ex-votos, são apresentados aspectos que sustentam o acesso e a participação dos fiéis nos dois espaços, apontando para diferentes níveis de envolvimento com as práticas populares.

A relação dos ex-votos bibliográficos com a memória social na Basílica do Bomfim é desenvolvida por Gilson Magno dos Santos. Simples pedaços de papel rabiscados são inseridos no contexto da piedade popular, adquirindo significado cultural e social. A análise concentra-se nos ex-votos de saúde, reveladores das limitações do sistema de saúde no Brasil e do significado da fé na busca pela cura.

O tema das doenças e milagres em Goiás é abordado por Wdson Cesar Freire de Melo na análise dos ex-votos do Divino Pai Eterno de Trindade, local de peregrinação no mês de julho. A relação entre as práticas dos devotos e o contexto da primeira metade do século XX é tomada como referência para a interpretação sobre o imaginário popular da época e a carência de serviços básicos de assistência e saúde à população, associados aos embates com a Igreja Católica. Os ex-votos pictóricos do Divino Pai Eterno apresentam-se, portanto, como testemunhos de uma época e contexto vivido pelas comunidades menos favorecidas, que contribuíram para a consolidação da tradição popular.

Por fim, Fabiano Lopes de Paula desenvolve um percurso de caráter conceitual em torno da fé, caracterizando as imbricações entre arte e religião, cultura material, patrimônio cultural, entre outros aspectos que contribuem para fundamentar os estudos e as reflexões em torno dos objetos, práticas e processos que envolvem os ex-votos, demarcando o sentido da fé no campo da cultura.

Com estes olhares plurais, que se cruzam em meios aos registros e análises dos ex-votos realizados pelos pesquisadores mencionados, Ex-votos do Brasil: arte e folkcomunicação oferece um testemunho do valor da devoção popular para o estudo da cultura. Importante destacar que o contato com fontes documentais como cartas, fotos e imagens diversas aproxima os leitores dos objetos analisados, evidenciando a força da pesquisa empírica na análise dos fenômenos culturais.

Por tudo isso, é um privilegio fazer a leitura do livro antes mesmo de sua publicação e constatar as relevantes apropriações da teoria da folkcomunicação realizadas por pesquisadores empenhados em conhecer, registrar e analisar cientificamente o cenário da religiosidade popular. Afinal, da primeira à última página, descortina-se um campo de absoluta riqueza e hibridismo que caracteriza a fé, materializada pelos ex-votos.

Karina Janz Woitowicz
Ponta Grossa, PR.


Desde o arranjo de objetos nas salas de milagres até a reapropriação em uma perspectiva artística, as contribuições reunidas neste volume abordam a questão da identidade e do destino do ex-voto através de pontos de vista cruzados: historiadores da religião, artistas, museólogos, trazem uma nova luz sobre o fenômeno do objeto ligado a uma promessa, e, além disso, sobre a questão da relação entre o profano e o sagrado. Este é o paradoxo do ex-voto enfatizado aqui: testemunho mais tangível da fé, o objeto dedicado não pertence nem a um ritual religioso nem à arte sacra.

Na verdade, nem todas as ações votivas que acompanham a deposição de um ex-voto constituem uma essência sagrada do objeto. É o devoto que é fundamental nesse processo e que se sente um elemento primordial na existência do santuário. No ritual, o ex-voto é um meio de comunicação essencial entre os fiéis e os deuses, mas não assume nenhum caráter sagrado.

As novas reflexões sobre a disposição das salas de milagres como espaço museológico também revelam muito bem o caráter profano dos objetos que, contudo, são dedicados aos deuses.

Uma vez que o objeto não pertence à arte sacra, devemos a partir de então,  romper com a velha teoria que sistematicamente assimila o ex-voto à arte popular. De um lado, o ex-voto está longe da produção artesanal em grande quantidade para decoração, pois envolve pedidos pessoais e, de outro, também se distingue da produção industrializada, uma vez que cada objeto dedicado a uma divindade é único. Ele evoca, ainda, momentos da vida cotidiana, valores individuais e privados que estão embutidos no concreto e permitem reconstruir a vida dos devotos, constituindo assim uma fonte de informação fundamental para vários campos de investigação, como por exemplo, as doenças. Independentemente do tipo de objeto dedicado, seja ele em madeira, em cera manufaturada, em matéria orgânica ou de natureza bibliográfica, o ex-voto representa, sobretudo, a memória dos fiéis que o depositaram em um santuário. Por isso, não podemos associá-lo a uma produção artesanal popular desprovida de qualquer conexão com a pessoa que encomendou, fabricou e comprou o objeto.

Contudo, o ex-voto também é parte de um processo da memória coletiva. Reflexo dos problemas sociais é um instrumento essencial para nos conduzir às profundezas da consciência. Esta enxerga na revelação do milagre uma resposta aos períodos de crise. O objeto dedicado em gratidão à realização do milagre dá materialidade aos desejos das comunidades, seja no sentido mais abrangente de sociedade, seja no sentido mais restrito de grupo familiar, profissional ou associativo.

Por sua variabilidade, o ex-voto é um reflexo de uma piedade popular multifacetada, que devemos distinguir da religiosidade popular que se encontra fixada na tradição ritual ligada à sua história. Sua vocação para agradar a divindade e sua função particular de “objeto que comunica” lhe permite transcender tempo e espaço e ser apropriado pelas artes visuais em um ato de transmutação estética.

Assim, indo além dos códigos fixos da cultura e das artes (popular, erudita e instituída), o ex-voto pode se tornar ferramenta de variadas criações artísticas, de acordo com o princípio da “circularidade” que eliminam as fronteiras entre a cultura de elite e a cultura popular.
O questionamento do ex-voto nesta obra o coloca no centro de uma reflexão multidisciplinar (sociológica, etnológica, artística, etc.), sublinhando o seu estatuto particular na ligação fundamental existente entre o profano e o sagrado.

Clarisse Prêtre
CNRS (UMR 7041), Paris, France
clarisse.pretre@gmail.com


Autores do livro

Ana Helena da Silva Delfino Duarte (Aninha Duarte) – PhD em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, com estágio na Universidade de Évora, em Portugal (Bolsa PDEECAPES). Professora no Curso de Artes Visuais e Mestrado em Artes da Universidade Federal de Uberlândia e colaboradora no Programa de Mestrado em Museologia da Universidade Federal da Bahia. Integrante do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus.

Fabiano Lopes de Paula – PhD em Arqueologia-Quaternário Materiais e Cultura- Universidade Trás-os Montes e Alto Douro /Arquitetura e Urbanismo Universidade Federal de Minas Gerais. Analista de Gestão Proteção e Restauro – IEPHA-MG. Ex-superintendente do IPHAN em Minas Gerais.  Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Membro do Instituto Terra e Memória – Portugal.  Integrante do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus.

Genivalda Cândido da Silva – Museóloga. Mestre em Museologia pela Universidade Federal da Bahia. Pesquisadora do Projeto Ex-votos do México. Integrante do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus – e do NPE – Núcleo de Pesquisas dos Ex-votos.

Gilson Magno dos Santos – PhD em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana. Pós-doutorado em Letras Clássicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor da Universidade Federal da Bahia. Atua no Mestrado de Museologia da Universidade Federal da Bahia. Integrante do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus.

José Cláudio Alves de Oliveira – Doutor em Comunicação e Cultura Contemporânea, pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Pós-doutorado em Comunicação e Tecnologias, pela Universidade do Minho, Portugal (BEX/CAPES 18009/12-3). Professor e Chefe do Departamento de Museologia da UFBA. Coordena o Núcleo de Pesquisa dos Ex-votos e o Projeto Ex-votos do México (CNPq). Líder do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus.

Wdson Cesar Freire de Melo – Graduado em História pela Universidade Católica de Goiás (PUC-GO). Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), na linha de pesquisa: Poder e Representações. Atuou como pesquisador de Iniciação Científica no Projeto Cultura, Performances e Imaginário: Os Ex-votos da Basílica de Trindade (GO). Integrante do GREC – Grupo de Estudos sobre os Cibermuseus.


Apoios

O livro será editado e publicado pela Editora Quarteto. Conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Universidade Federal da Bahia, do Museu de Arte da Bahia, do IPAC, do Governo da Bahia e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia.