Bomfim – BA

HISTÓRIA

Em 1745, viajando para a província da Bahia e sofrendo durante a sua viagem avariações em sua nau, o Capitão Teodósio Rodrigues de Farias fez uma promessa ao Senhor Bom Jesus do Bonfim. Promessa que, chegando salvo à cidade, construiria uma igreja no local onde pudesse, bem ao alto, verificar a entrada da Baía de Todos os Santos. Certamente um local estratégico e aprazível. Daí, então, ser escolhido a colina de Montesserrat, onde hoje está situada a igreja. O referido templo levou nove anos para ser construído, e por isso só em 1754 deu-se a introdução da imagem que durante este período ficara recolhida no palácio arquiepiscopal de veraneio onde se denomina Igreja da Penha em Itapagipe (Igreja de Nossa Senhora do Rosário do Pópulo da Penha de França de Itapagipe de Baixo e Nosso Senhor Crucificado). A devoção da referida imagem viu-se acentuada gradativamente, isso porque o próprio relacionamento de seu fundador com a sociedade fizera com que as classes mais abastadas da época, que passou a visitá-la todas as sextas-feiras sem contando deixar de enviar seus escravos para, na quinta-feira, fazerem a lavagem da igreja. Sabe-se que o dia de sexta-feira se referencia a Nosso Senhor do Bonfim que no sincretismo religioso africano quer dizer Oxalá. Após a abolição da escravatura a lavagem continuou a ser efetuada por negros, que pouco a pouco foram modificando a sua forma. Isso porque deixava de ser uma obrigação religiosa. O cortejo da lavagem (procissão) tem o seu itinerário sempre a partir da Conceição da Praia, entretanto é bom que se ressalte que de início o mesmo era feito por via marítima. Os barcos ancoravam até o alto da colina. Mais tarde, com o aterro da parte da cidade baixa a viagem passou a ser feita por bondes de burros e carroças, até que, em meados da década de 1930, foi construída avenida Jequitaia, e com o advento do bonde elétrico, tornou-se mais viável e rápido o percurso. Muitos vinham a pé, outros dos mais diversos meios de transporte, até mesmo a cavalo; como ainda hoje o fazem. Com o passar do tempo, a lavagem continua, embora de forma diferente. A multidão é imensa, as barracas proliferam-se, e os peregrinos deixam a Conceição às primeiras horas da quinta-feira. Enquanto isso, desenvolve-se, na igreja, a novena em homenagem ao Santo: No início, eram várias as embarcações que vinham do interior e por não existir nenhum tipo de iluminação na cidade, grande quantidade de feixes de lenha era trazida dos mais diversos pontos do Recôncavo Baiano, por via marítima, e empilhada na lareira que dava acesso pelo fundo da igreja ao seu largo (hoje Ladeira da Lenha) no qual eram armadas fogueiras para os folguedos noturnos, que mais tarde fora substituídos pelos lampiões, seguidos dos gasômetros e finalmente pela luz elétrica. Nos dias atuais vemos um dos pontos mais visitados em Salvador. Em termos de romaria, nem tanto, embora o fluxo de ex-votos na sala de milagres seja grande. São muito os “pagadores de promessas”. Mas as romarias ficam para trás, perdendo para Candeias, Ituaçu e Bom Jesus da Lapa, todos santuários Baianos. Os ex-votos no Bomfim estão dispostos na sala de milagres e no museu dos ex-votos, ambos no corredor direito da igreja. A sala já tem os “sensores” que solicitam colocar “a graça” num pequeno baú ao chão. O museus é rico em ex-votos dos séculos XVIII até os dias atuais, ex-votos que vão da pintura aos milagritos, dos escultóricos às camisas de jogadores de futebol.

 

O Vídeo, registra o agrupamento e interação dos devotos em frente à Igreja do Senhor do Bonfim, (na festa e lavagem das escadarias, ano de 2013) a partir da instalação da TVE (TV Educativa) de Salvador, que transmitiu ao vivo a festa religiosa.

Este slideshow necessita de JavaScript.

D. Maria Durotheia

Análise Iconográfica

A legenda encontra-se na parte inferior e está escrita em português arcaico em caixa-alta:

“MILAGRE Q. FES O SNR. JEZUS DO BOM FIM A JACINTHO PEREIRA SABIDO DE MELIDES, NO ANNO DE 1843, SUA MULHER D. MARIA DUROTHEIA BEJA FALCÃO PEGANDOSSE COM O DITO SR LHE DEU VIDA”.

O enfermo, Jacintho Pereira, aparece representado deitado em uma cama de casal, com o seu tronco está apoiado por travesseiros.   Veste um pijama de manga longa, abotoado na frente e com gola. Seu braço direito está dobrado e apoiado no travesseiro. O braço esquerdo está levantado e aponta para a imagem do Senhor do Bomfim, que está representado envolto em nuvens, na sua aparição. A cabeceira da cama e a colcha vermelhas acomodam o enfermo. A cama apresenta um dossel característico do século XIX, revestido de um tecido mais espesso na parte superior e nas laterais com um tecido mais leve, transparente.

A figura feminina representando a D. Maria Durothea, encontra-se ajoelhada, com as mãos unidas à frente, em oração. Seu rosto está voltado para cima, na direção do Senhor do Bomfim. Seus cabelos são pretos e estão presos em um coque. Ela usa um vestido longo e volumoso, que está sobreposto por um xale vermelho também característico da vestimenta da sua classe no século XIX.

O Senhor do Bomfim, em formato pequeno, está representado do lado direito, acima da cômoda, envolto a nuvens, aparentando estar pairando no ar. Está crucificado e seus quadris estão envoltos por um perizônio branco.

Compondo a cena narrativa, existe uma cômoda em madeira com gavetas do lado direito e uma janela envidraçada ao fundo. Os tons utilizados para a pintura da tela são pastéis, as paredes estão pintadas em duas tonalidades de verde, com rodameio branco.

Análise do Discurso

Como afirmamos, os ex-votos são elementos que proporcionam uma infinidade de análises e reflexões acerca da cultura popular e funcionam, também, como documentos históricos e sociais da população em geral.  Neste ex-voto, além da religiosidade e fé que são os pontos principais; dois aspectos chamam a atenção: o mobiliário apresentado que é um registro visual de uma época e a apuração do enquadramento da pintura, com perspectiva, simetria e ponto de fuga.  Segundo Castro:

“Os ex-votos não só oferecem registro costumbrista de mobiliário, indumentária, gestos, como também, talvez por estarem inseridos num espaço social religioso cuja frequência era permitida à mulher, esta é personagem frequente do seu estadear no século XVIII, continuando representada ao longo do Novecentos até os dias de hoje, como seria de se esperar.” (CASTRO, 2012)

A cama com dossel é bastante característica do século XVIII, corroborando a época da confecção do ex-voto. A figura da mulher, embora pareça ter a projeção da “esposa”, da doméstica, possui a projeção na atitude da força ao enfermo, com a reza e a evocação, conforme a legenda, e é através do seu pedido de intercessão, que o Senhor do Bomfim realiza o milagre, e salva a vida do esposo.

Referências Bibliográficas

CASTRO, Márcia de Moura. Ex-votos em Congonhas: o resgate de duas coleções. Brasília, DF: IPHAN, 2012. 208 p. il. (Acervos 1)

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Pesquisadora Assistente PIBIC/Voluntária

Manoel BomFim Moreno

Ex-voto policromado com moldura em madeira, apresentando um bom estado de conservação da moldura e da pintura. A obra, exposta no Museu do Bomfim, em Salvador, Bahia, Brasil, representa um pequeno barco a vela em alto mar. O cenário é composto por variações de azul e branco, representando o céu, o mar e as nuvens. Nota-se técnicas de profundidade na textura do mar, com relevos criados pela alternância de tons de azul claro e escuro para representar um mar agitado por ondas. Há a presença de nuvens, em primeiro plano, uma nuvem mais escura que aparenta provocar vento e chuva. Ao fundo, em segundo plano, há outra nuvem menor, mais clara, onde está representada a imagem de Jesus Cristo, o Bomfim, acima dela. A terceira nuvem, em terceiro plano, é uma tímida linha branca que serve para aumentar a perspectiva do cenário. 

O retablo apresenta escritos em vermelho, na parte superior, com os dizeres, sem datação: ‘’OFEREÇO AO SENHOR DO BOMFIM POR UMA GRAÇA ALCANÇADA’’, em baixo, o nome do romeiro ‘’MANOEL BOMFIM MORENO’’.

O pequeno barco a vela representado na pintura ocupa o centro, ganhando destaque no cenário. Ele aparenta ser uma embarcação de madeira, o tecido das velas é branco. Há três pessoas dentro do barco, duas próximas à popa da embarcação, e outra perto da proa, segurando o que aparenta ser uma vara de pescar.

No lado esquerdo, ao fundo da pintura, está a imagem de Jesus Cristo Crucificado em uma cruz representada pela cor preta. A figura de Cristo possui poucos detalhes anatômicos e veste perizônio branco, tradicional da iconografia cristã.  Há raios solares em torno da crucificação, que está acima de uma nuvem.

Análise do discurso

Um dos pontos interessantes a ser observado neste retablo é que, para além de seu caráter ex-votivo, o agradecimento e a assinatura do romeiro trazem informações sobre a relação de ambos, demonstrando estarem conectados pelo nome, dando a entender que o nome do santo tenha sido inserido na vida do devoto anteriormente como um caráter votivo, mostrando que existe uma tradição passada de geração a geração.

Por Sasha Morbeck Miranda – Pesquisadora Assistente IC/CNPq

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s