Iconografias

PLACAS EX-VOTIVAS

Placa ex-votiva documentada na Gruta de Lourdes em Alta Gracia, Córdoba – Argentina. Placa em metal prateado, com letras em relevo na mesma tonalidade. O metal não é liso, apresenta uma textura com círculos pequenos. A estética da placa tem variações no seu relevo simulando a presença de duas camadas de metal. A camada superior, simula uma composição mais fluida com algumas dobras no metal, caracterizando esta leveza; enquanto que a camada inferior funciona como uma base de suporte. No canto superior direito existe um laço, também em metal.  A mensagem gravada é a seguinte: “Gracias Virgencita de Lourdes por recibirme Giuliana Tus Papis, Lito y Gloria, 25-7-92. Em tradução livre: Graças Virgem de Lourdes por me receber: Giuliana, seus pais,  Lito e Glória, datado de 25-7-92. A placa está presa ao muro, através de dois parafusos, um em cada lado da placa.

Análise do discurso:

Giuliana e seus pais, Lito e Glória dão graças a Virgem por esta a ter recebido.  O ambiente em que a placa está inserida é um ambiente de religiosidade e fé, a placa é um testemunho disto. (Gruta de Lourdes)

A mensagem da placa é simples, mas leva a alguns questionamentos por parte do leitor por não possuir elementos explicativos textuais. Cria uma necessidade de saber o que não é possível conhecer, já que as pessoas que ofereceram a placa não estão acessíveis para um diálogo/entrevista. A abordagem para o entendimento pode partir de diversos pontos de vista, e o leitor pode estabelecer algumas alternativas para este entendimento.  (Luhmann, p 96)

A ausência de duas datas, exclui a possibilidade da Virgem ter recebido Giuliana pós morte. A placa tem uma delicadeza estética, revelado através de seus traços leves e suaves, a presença do laço remete à memória de artefatos de um recém-nascido. Cada pessoa que visita a gruta e observa a placa faz a sua própria leitura, a partir de suas vivências prévias; mas o testemunho da fé e a gratidão a santa é a mensagem principal.

Bibliografia

LUHMANN, Niklas, A improbabilidade da comunicação, tradução de Anabela Carvalho, 3ª ed., Lisboa, Veja – Passagens, 2001

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Assistente de Pesquisa – Voluntária/PIBIC.



Análise Iconográfica 

Imagem de uma placa ex-votiva documentada no Santuário da Virgem de Lourdes, em Alta Gracia, Córdoba. Esta placa é confeccionada em metal, que aparenta ser latão, possui alto relevo. Está presa à parede, escrita em 11/02/2002. Na parte inferior da placa estão os agradecimentos:  

‘’VIRGEN DE LOURDES GRACIAS POR AYUDARME PABLO 11-02-02’’ 

Tradução: Virgem de Lourdes, agradeço por me ajudar, Pablo 11-02-02 

Na parte superior da placa está um desenho em alto relevo de um torso frontal, com a cabeça em perfil. Dentro do torso observa-se a representação de um sistema respiratório, que se estende da cabeça até quase alcançar o início da região do abdômen.  

Análise do discurso: 

As placas ex-votivas são um tipo de ex-voto que se mostra em maioria nesta região, circundando as extremidades das muretas do Santuário. A sua predominância é marcante. Nesta placa ex-votiva encontrada dentre muitas outras no Santuário, observa-se o agradecimento do romeiro Pablo para com a Virgem de Lourdes.

Uma das características estéticas principais das placas ex-votivas é o agradecimento escrito, que vincula o crente ao santo através da promessa concebida, e que marca a concretude dessa relação de fé através da desobriga do ex-voto no Santuário. Algumas placas contêm somente a mensagem escrita, alertando a graça, mas neste ex-voto documentado, uma característica também marcante é o símbolo representando um corpo humano.

Numa possível interpretação semiótica, pode-se relacionar a representação do corpo humano, neste contexto ex-votivo, como um agradecimento pela saúde do romeiro, mas  a ausência de uma comunicação direta com o Pablo, para nos garantir ou especificar a natureza do seu ex-voto, deixa-nos com a função dúbia de intérpretes da informação. A mensagem deixada pelo crente, numa perspectiva Bakhtiniana (1997) traz uma monofonia, um dialogismo, onde o diálogo, mínimo, é unilateral. Esse caráter, de uma comunicação rompida, traz para o objeto deixado, a partir destas análises, o potencial de ser ressignificado, como o foi feito ao ser documentado e trazido para outro meio de comunicação com intenções que divergem da natureza inicial concebida pelo crente.

Bibliografia  

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997. p. 279-326.   

Por Sasha Morbeck Miranda – Assistente de Pesquisa IC/CNPq. 



Análise Iconográfica

Placa documentada na Gruta de Lourdes em Alta Gracia, Córdoba – Argentina. Placa em metal prateado, com fotografia, em esmalte, de uma pessoa. Sua textura aparenta ser lisa, possui um ornamento ao lado superior esquerdo  que representa galhos com folhas. No lado direito da placa  um pombo em perfil e voo, de asas abertas, representando o espírito santo. Ao lado esquerdo, encontra-se os escritos em espanhol:

“MAMÁ

 TE FUISTE AL CIELO PARA SER UNA ESTRELLA.

 TE QUEREMOS MUCHO Y TE EXTRAÑAMOS.

 FLOR, CAMI Y MICA”.

Tradução livre: ‘’MÃE VOCÊ FOI AO CÉU PARA SER UMA ESTRELA. NÓS TE AMAMOS MUITO E ESTAMOS COM SAUDADES. FLOR, CAMI E MICA.’’

Análise do discurso

 A placa documentada é um tipo de Alminha, uma tradição portuguesa dedicada a salvar almas. A fé e a devoção são elementos importantes na tentativa de comunicação e ligação transcendente.  Como uma necessidade humana, a comunicação com o ente superior está presente nas mais diversas sociedades ao longo da história. As alminhas

Constituem manifestações de uma das concepções centrais da visão do mundo, e mesmo talvez de toda a Cristandade: a oposição entre a vida e a morte física e a vida e a morte espiritual (…) Estes actos de adoração (…) serão designados como ”cultos da morte” (CABRA. 1989, p. 254)

Essa Alminha demonstra a necessidade  comunicacional transcendente à própria vida, em específico, e é explorada em seu elemento textual, a falta que a mãe faz aos filhos, que mantém a crença popular de que os mortos viram estrelas, mantendo seu lugar nos céus. 

Referências Bibliográficas 

CABRAL, João de Pina. Filhos de Adão, Filhas de Eva – A visão do mundo camponesa no Alto Minho Dom Quixote. 1989 p. 254-264.

Por Sasha Morbeck Miranda – Assistente de Pesquisa IC/CNPq.



Análise Iconográfica

Imagem de uma placa em metal prateado. A placa apresenta uma decoração com flores em relevo. No canto inferior esquerdo está representado um buquê composto de flores e folhagens; no lado direito está a presença de uma única flor.  Na parte superior, ao centro está um outro conjunto de flores e, ao lado, no canto superior esquerdo, estão as letras Q.E.P.D, que em espanhol significam “Que en paz descanse”. A tradução em português é descanse em paz.  No lado superior direito está escrito “Gracias Virgencita”, em português: “Obrigada Virgenzinha

No centro da placa está uma inscrição com letras em relevo escrito: “Dicen a la família uno a la elije. Se me dieram esa oportunidad no dudaria em que fuesem ustedes, mi familia. Gracias a todos y a Dios por esta família”. A tradução livre é a seguinte: “Dizem que família não se escolhe. Se esta oportunidade me fosse dada, eu não hesitaria que seriam vocês a minha família”. Graças a Deus e a todos por esta família. Não está assinada nem datada.

Análise do discurso

A placa foi documentada no Santuário da Virgem de Lourdes, em Alta Gracia, Córdoba, na Argentina. É uma placa que apresenta um agradecimento a uma família. É uma placa anônima, o autor (a) agradece por essa família e expressa a vontade de ser um membro dela. É um agradecimento direcionado a Virgem de Lourdes e a Deus. A presença das iniciais Q.E.P.D, possibilita o entendimento que os membros desta família são falecidos. Neste caso, esta placa estaria classificada como uma “alminha”.

“As alminhas são objetos que “pedem a Deus”, ou ao santo protetor, o “bom descanso” àquele que faleceu. Atualmente, no Brasil, as alminhas vêm em formatos 9X12, e trazem a imagem da pessoa que morreu, com dizeres que, além de uma oração ou reza, enobrecem o indivíduo em família ou como um cidadão que foi.” (Oliveira e Prêtre, 2019)

Diferente do que é usual no Brasil, não foram adicionadas fotos ou datas de nascimento e falecimento.

Bibliografia

OLIVEIRA, José Cláudio Alves de; PRÊTRE, Clarisse. Entre a vida e a morte: a importância do ex-voto como elemento sígnico. Revista Brasileira de História das Religiões, [s. l], n. 35, p. 205-229, set. 2019.

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Assistente de Pesquisa – PIBIC/V/UFBA.



Análise Iconográfica

Imagem de uma placa ex-votiva na Gruta de Lourdes em Alta Gracia, Córdoba – Argentina. Datada em 31/12/2004, a placa feita em cerâmica está fixada à parede. No tratamento pictórico da placa, nuvens e árvores avizinham uma casa centralizada, apoiada em relevos. Vemos a fachada principal dessa casa, com uma janela e uma porta, bem como a fachada lateral, com uma janela. O telhado da casa, melhor visto na fachada principal, tem suas telhas definidas. O processo pictórico complementa o tratamento gráfico: acima da casa desenhada lê-se “gracias Virgen del Lourdes por concedernos nuestra” e abaixo “Claudia G. y Marcelo M.” A tradução livre em português é, respectivamente, “obrigado, Virgem de Lourdes, por nos conceder nossa” e “Claudia G. e Marcelo M.”

Análise do discurso

Essa placa, documentada no Santuário da Virgem de Lourdes, é uma expressão material de agradecimento pelo milagre da casa própria. Para Didi-Huberman, “as coisas depositadas em santuários por gratidão votiva são sempre objetos que foram tocados por um acontecimento soberano, por um “sintoma”, pelo sofrimento do infortúnio ou pela súbita transformação do infortúnio em milagre” (p. 8, 2007). Aqui, trata-se de um desejo consumado: a assinatura de Claudia G. e Marcelo M. indicam que os dois desejaram deixar, no ano de 2004, seu presente votivo no sagrado lugar para dar provas públicas dos milagres de Maria.  A placa reforça os laços entre o fiel e o santo e a narrativa expressa nela se torna publicamente exibida e reconhecida. Portanto, o ex-voto conecta dramas privados com demonstrações públicas de gratidão no local da peregrinação. 

Referências bibliográficas

DIDI-HUBERMAN, Georges. Ex-voto: Image, organe, temps. L’Esprit Créateur, v. 47, n. 3, p. 7-16, 2007.

Por Maria Clara Oliveira – Assistente de Pesquisa – FAPESP



Análise Iconográfica:

Imagem de uma cabeça de homem, em prata batida, repuxada e cinzelada, documentada no Museu de Arte Religioso Juan de Tejeda na cidade de Córdoba, Argentina.  A cabeça está de perfil, com a representação do lado direito da peça, revelando detalhes da face: olho, nariz, boca, contorno da mandíbula e pescoço.  O cabelo é ondulado.  O perfil se assemelha às representações greco-romanas. Acima da cabeça, existe um elo vazado.

Este ex-voto documentado é um milagrito, que são pequenas peças de variados formatos que são comumente encontradas na Argentina, México, e outros países. Na Argentina são comuns os ex-votos em prata, e existem mais de 250 tipologias diferentes. A função destes ex-votos é sempre de agradecimento.

           En la Argentina los exvotos de plata representan más de                                              
           250 tipologías diferentes. Pudimos comprobar que es el    
           país de América que tiene la mayor variedad a lo que se   
           agrega una gran creatividad. Están también las piezas 
           adocenadas y repetidas. Todas cumplieron su función: el 
           agradecimiento. (Barbieri,2020)

            Até o século XX era comum os devotos encomendarem a peça a um ourives, que procuravam reproduzir o pedido em pequenas peças em prata. (Barbieri, 2020). Atualmente estes milagritos são reproduzidos a partir de moldes preexistentes, o que resulta, em vários ex-votos com formatos similares, como este aqui apresentado.

Referência Bibliográfica

BARBIERI, Sergio. “La fe convertida en objetos: los exvotos de la Argentina, un arte popular poco conocido”, en Separata «Creencias y devociones, festividades y costumbres» año XVIII, nº 27, Rosario, CIAAL/UNR, diciembre de 2020, pp. 31-61, URL: http://ciaal-unr.blogspot.com/

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Assistente de Pesquisa -Voluntária/PIBIC



Análise Iconográfica

Imagem de um milagrito documentado no Museu de Arte Religioso Juan de Tejeda, em Córdoba, na Argentina. Figura em metal, representando o formato que simboliza um coração. No centro está gravado as letras ‘’A H G’’. Na parte superior do milagrito possui um orifício intencional, que se agrega a um pequeno anel, também de metal, que possibilita pendurá-lo. 

Análise do Discurso

Uma das muitas expressões da cultura material sacra, para agradecer por milagres concedidos, são os milagritos ou “pequenos milagres”, miniaturas representando partes do corpo, como o coração, mãos, pernas etc. Colocados em um santuário que é considerado de poder milagroso, eles são comumente anexados à roupagem da estátua do santo responsável pelo milagre. A simplicidade desse milagrito abre espaço para o exercício da imaginação, as interpretações que são fornecidas pela sua materialidade são extensas, justamente pela sua estética minimalista, desde o seu formato ao que pode significar as três letras ao centro, que gera uma informação improvável (LUHMANN, 2001). 

Este pequeno objeto de metal, desobrigado por um crente, atua como parte de um processo autônomo enquanto documento simbólico e da cultura material. A perspectiva latouriana (2012), por exemplo, não trata os objetos simplesmente como significado, mas como objetos cuja materialidade traz agência e características específicas que são tão relevantes quanto as simbólicas, e permitem inclusive uma análise social a partir da própria materialidade, neste milagrito se expõe um vínculo material ao representar o corpo humano. Ao ser deixado, sem vínculo informativo direto, sem a possibilidade de encontrar mais informações a partir de quem deu significado primário à sua existência e sua função, permite a abertura de um universo em si para se contextualizar com a realidade no qual está inserido. 

Referências Bibliográficas

LUHMANN, Niklas, A improbabilidade da comunicação, tradução de Anabela Carvalho, 3ª ed., Lisboa, Veja – Passagens, 2001

LATOUR, B. Reagregando o social: uma introdução à Teoria do AtorRede. Salvador: EDUFBA, 2012.

Por Sasha Morbeck Miranda – Assistente de Pesquisa IC/CNPq.



Análise Iconográfica

Milagrito documentado na Igreja de San Roque em Córdoba, na Argentina. Figura em metal, representando uma perna. Os dedos do pé e as respectivas unhas estão trazidos em médio relevos e em sulcos que se formam no metal. Abaixo da perna uma placa com uma inscrição em espanhol: “ A SAN ROQUE Dedico este recuerdo por la salud de  mis piernas. America Fabian 1958”.

 Em tradução livre: “dedico a São Roque esta recordação, para a saúde de minhas pernas, assinado por America Fabian em 1958”. A peça encontra-se fixada no expositor através de 3 alfinetes de pérola.

Análise Iconológica

São Roque é o patrono dos peregrinos, dos infectados por epidemias (especialmente peste e cólera) e dos enfermos. Na iconografia de São Roque, ele se apresenta vestido de peregrino com cajado, chapéu e capa, com uma ferida na perna, sendo a mais comum a esquerda, e acompanhado por um cachorro ou um anjo, embora às vezes ambos sejam representados.

O milagrito, em agradecimento a São Roque, faz uma relação direta com a história do santo e a cura das enfermidades.

Bibliografia

https://www.diocesisdecordoba.es/santo-del-dia/san-roque. Acesso em 17 de nov. 2022

Por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Assistente de Pesquisa -Voluntária/PIBIC



Análise iconográfica
Imagem de ex-voto documentado no Museu de Arte Religioso Juan de Tejeda, em Córdoba, na Argentina. Trata-se de uma figura com contornos de brasão feita em mármore esbranquiçado, fixado à parede. Nela, lê-se, em letras gravadas em baixo revelo colorizado: “A LA VIRGEN DE LUJAN EN AGRADECIMIENTO POR LOS FAVORES RECEBIDOS Y QUE NOS SIGA PROTEGIENDO F LIA COPPOLA”

Análise de discurso
O ex-voto está acompanhado de um texto escrito expressando a gratidão do fiel e identificando o santo que foi responsável pelo milagre, Virgen de Lujan. Padroeira da Argentina, Virgen de Lujan é um de tantos outros títulos da Virgem Maria na tradição católica. Como numa oração visual, o ex-votos foi especificamente usado para agradecer por favores concedidos. Um favor, nesse contexto, é um pedido de misericórdia atribuído por indulgência, um obséquio concedido por um santo que intercedeu e deferiu pedidos de ajuda. O fiel, ainda, enseja por uma proteção duradoura, uma que não cesse mesmo depois do pedido atendido. Nesse sentido, os ex-votos podem ser uma fonte de esperança para grupos marginalizados que compartilham um impulso religioso de apelar para que os santos intercedam por eles – alguém certo de ouvir suas orações. O poder da Virgem Maria, ainda que sob diversas invocações marianas, para responder aos pedidos de suplicantes é aparente nas expressões votivas da América Latina, que a colocam como eixo central.

Referências bibliográficas
PINEDA, Ana Maria. Imágenes de Dios en el camino: Retablos, exvotos,
milagritos, and Murals
. Theological Studies, v. 65, n. 2, p. 364-379, 2004.

Por Maria Clara Oliveira – Assistente de Pesquisa – FAPESP



Imagem de um busto feminino, em metal dourado e em alto relevo, documentada na Igreja de São Roque na cidade de Córdoba, Argentina. A figura traz o formato de um busto feminino, enfatizando a cabeça, indo até um pouco abaixo dos seios. Na parte superior, observa-se os detalhes da face, com olhos, nariz e boca, além de bochechas marcadas. Os cabelos caem até a altura dos ombros, observa-se um grande detalhamento nesta parte, onde as mechas onduladas são bastante recortadas, dando mais tridimensionalidade ao alto relevo. Descendo para baixo dos ombros não há braços inteiros, são interrompidos na altura dos seios. Os seios são representados arredondados, mas anatomicamente irreais, pois estão muito próximos da clavícula. Há um provável orifício no topo, onde está inserido o alfinete, fixando a imagem no tecido ao fundo. 

Análise do Discurso

Há variadas interpretações possíveis para esse milagrito, uma delas é referente a uma temática envolvida com a saúde, e umas das formas de análise para esse tipo de ex-voto, que em si não traz mais informações do que sua própria forma, é utilizando o contexto em que o mesmo foi encontrado. Os milagritos muitas vezes podem ser encontrados na indumentária do Santo com o qual está relacionado o pedido, e saber a história do Santo pode ajudar na interpretação. São Roque, por exemplo, é um Santo invocado para proteger contra a peste, considerado o padroeiro dos inválidos, cirurgiões, e dos cães. É também considerado por algumas comunidades católicas como protetor do gado contra doenças contagiosas.

Referências Bibliográficas

BRUGADA, Martirià. São Roque Serviço ao Próximo. São Paulo: Paulinas, 2003, (Coleção Amigas e amigos de Deus).

Por Sasha Morbeck Miranda – Assistente de Pesquisa IC/CNPq.


Análise iconográfica
Bilhetes ou cartas foram deixados aos pés da escultura de uma figura humana, que está na Igreja de São Expedito, em Buenos Aires, a qual aparenta estar dentro de um painel de madeira e apoiado em um suporte prismático. Os papéis das cartas e bilhetes são variados em material – papel sulfite ou folha pautada – e tamanho. O realismo da escultura nos permite ver as veias dos pés, bem como as falanges bem definidas e salientes, com a tonalidade avermelhada, o que representa chagas, e, portanto, indicamos ser o Cristo flagelado e de pé.


Análise iconológica
As cartas e bilhetes também são formas de ex-votos. Segundo a tipologia dos ex-votos de Cunha e Gordo (2021), as cartas e bilhetes são classificados como “ex-votos discursivos”, porque escrevem o milagre por meio da escrita e explicitam a história de vida dos fiéis. Duarte (2011) distingue as duas modalidades de ex-votos discursivos: as cartas são detalhadas e alongam a descrição do agraciado, os bilhetes são mais pontuais– “dizem o motivo da graça, o nome do ofertante, agradecem, e podem conter a data e o local do ocorrido.” Ambas as modalidades podem ser escritas pelo próprio fiel encomendadas; podem ser escritas a mão, digitalizadas ou datilografadas. Quanto ao conteúdo, podemos inferir, através do estudo de Duarte (2011), que se trata de “agraciamentos por curas de doenças, de acidentes, êxitos profissionais, casamentos, formaturas” – enfim, o fato que gerou a graça. Duarte (2011), acrescenta, ainda, que alguns apresentam dados sobre o agraciado, como foto, idade, nome, estado civil, escolaridade, entre outros, bem como a evidência da graça. A proximidade dos papéis aos pés de uma figura santa nos permite identificar o sentido religioso e a contratualidade de fé da ação.

Referências bibliográficas

CUNHA, Magali do Nascimento; GORDO, Luis Erlin Gomes. Os ex-votos comomídias na transmissão e na preservação da memória social. Revista Internacional de Folkcomunicação, v. 19, n. 42, p. 219-240, 2021.

DUARTE, Ana Helena da Silva Delfino et al. Ex-votos e poiesis: representações
simbólicas na fé e na arte
. 2011.

Por Maria Clara Oliveira – Assistente de Pesquisa – FAPESP



ICONOGRAFIA NAZARENO

Na túnica da imagem estão costurados vários milagritos em prata. Do lado esquerdo da túnica estão uma placa com um dente molar, um cavalo logo abaixo, dois homens ajoelhados e um busto. Do lado direito estão uma perna e a placa já mencionada acima. Na barra da túnica estão duas mãos de um material que se assemelha a plástico.

A imagem tem características de ser uma imagem de procissão, que sai às ruas em determinadas festas católicas, levando junto uma multidão de fiéis. Nestas ocasiões, ocorrem a colocação de ex-votos aos pés das imagens sacras, ou presas nas vestimentas dos santos, e que podem ser visualizados na imagem do Nazareno.

A documentação fotográfica da imagem foi realizada durante a incursão a Argentina, pela equipe pesquisadora do  Projeto Ex-votos – Etapa América do Sul. A imagem faz parte do acervo do Museu de Arte Religiosa Juan de Tejeda.

 Segue abaixo descrição   da imagem fornecida por Yanina Malizia, museóloga  responsável pela documentação das coleções do museu.

“Fanal con Nazareno

Fanal de base circular y vidrio que culmina en cúpula. Resguarda la imagen de un Cristo de pie vestido con túnica violeta. La imagen está tallada en madera y policromada. Tiene cabellos, aparentemente naturales y sobre su cabeza una corona de espinas. Sobre sus hombros hay un encaje de hilos plateados. De su cintura cuelga un corazón atravesado por un puñal. Completan la profusa decoración una gran cantidad de pequeños objetos de material plástico como figuras femeninas, manos, animales, peces, flores, etc. Puede deducirse que estos objetos han sido agregados con posterioridad. Act Yanina Malizia, 15/04/2019, la imagen es de vestir, con enaguas de algodón color blanco. Desde el reverso posee una ramita vegetal forrada con papel verde, en la que se sujetaron numerosas flores de láminas metálicas de colores, repujadas. Sobre la túnica se observan al menos 19 exvotos, principalmente de plata (salvo las manos rojas, que aparentan ser de resina), de diferentes formas, cosidas. También se observan una cruz y un prendedor, ambos de cristales violetas y bronce, agarrados a las manos y pecho de la obra. La escultura es de madera y tela encolada.

Imagen del Siglo XIX (según la Dra. Vanina Scocchera)

Alto Perú

62 cm de altura

Donación de Jorge Beltrán

Observaciones: Según datos aportados por la Dra. Vanina Scocchera, la composición posee elementos de diversas épocas, algunas de fines del Siglo XVIII, Siglo XIX y XX, y es principalmente altoperuano, pero sería una imitación de una obra cuzqueña. Act Yanina Malizia, 06/12/2021”

Tradução realizada por Prof. Dr. Nelson Cayer, pós-graduando do Projeto Ex-votos:

“Lanterna de base circular e vidro que culmina em cúpula. Protege a imagem de um Cristo em pé, vestido com uma túnica violeta. A imagem é esculpida em madeira e policromada. Ele tem cabelos, aparentemente naturais, e na cabeça uma coroa de espinhos. Nos ombros há uma renda de fios prateados. Um coração perfurado por uma adaga está pendurado em sua cintura. A profusa decoração é completada por um grande número de pequenos objetos de plástico como figuras femininas, mãos, animais, peixes, flores, etc. Pode-se deduzir que esses objetos foram adicionados posteriormente. Act Yanina Malizia, 15/04/2019, a imagem é um vestido, com anágua de algodão branco. No verso apresenta um galho de planta coberto com papel verde, ao qual foram fixadas numerosas flores feitas de folhas de metal coloridas e gofradas. Na túnica há pelo menos 19 ex-votos, maioritariamente de prata (exceto as mãos vermelhas, que parecem ser de resina), em diferentes formatos, cosidos. Há também uma cruz e um broche, ambos feitos de cristais violetas e de bronze, fixados nas mãos e no peito da obra. A escultura é feita de madeira e tecido colado. Imagem do século XIX (em homenagem à Dra. Vanina Scocchera)”

Alto Peru

62cm de altura

Doação de Jorge Beltrán

Observações: Segundo dados fornecidos pela Dra. Vanina Scocchera, a composição contém elementos de vários períodos, alguns do final do século XVIII, século XIX e século XX, e é principalmente alto-peruana, mas seria uma imitação de uma obra cuzquenha. Act Yanina Malizia, 06/12/2021.”

Iconografia realizada por Fernanda A. Camelier Mascarenhas – Pesquisadora assistente PIBIC/V/UFBA.